Porque o faz de conta não conta?
Mágica, sonhos, aspirações, o brilho de um desejo construído,
que de tão natural, puro e nítido, parece que vivemos, imaginamos os detalhes
mais ínfimos, pensamos em tudo e deixamos de pensar em tudo também, antagonicamente
é exatamente assim que acontece, ao menos é como percebo, como sinto, como já
vivi e também como sinto que outros já viveram.
Tudo começa na infância, pelos
livros, quadrinhos, histórias de avô ( sentado no colo dele), pela
nossa
própria, linda e grandiosa imaginação, capaz de nos transportar e fazer qualquer,
digo, qualquer coisa que queiramos. Lembro do pé de manga, das suas raízes profundas, repletas
de musgo seco (no verão) e lodo e musgo (nas chuvas), lembro de sentar entre as
raízes e passar horas, num mundo que não era ali nem acolá, haviam pássaros
voando nas mais diversas cores, pessoas mágicas, tudo era tão possível, lembro
perfeitamente de me sentir completo, sim, eu voava, entrava no mar e respirava
na água.....saudade incrível.
Mas
mesmo nesse tempo, eu lembro dele, o medo, eu lembro da sombra escura que se
esgueirava rapidamente quando eu olhava inesperadamente para trás, eu lembro da
sensação clara e palpável de ser observado, de vultos passando e da insegurança
que me gerava, do frio que brotava no meu coração, na minha espinha, que me fazia
correr, num alpendre gigante em direção ao meus pais, irmãos ou empregada, com
o coração na boca e a expressão de nada está acontecendo.
Havia
um bem e um mal, afinal, um universo tem de ter dualidade, do contrário não
existe, não funciona, morre.
Foram
inúmeras aventuras, muitas batalhas vencidas, muitas fugas para esse lugar tão
meu, no qual eu era exatamente quem eu era, lutei muito para não perder a
capacidade de enxergar os portais que conseguia ultrapassar, mas não consegui,
não resultou, perdi esse poder, ou melhor, perdi a intensidade possível naquela
época, as coisas mudaram, todos falavam que tinha de mudar, que temos que
crescer, que ser adulto, escolher uma profissão, ter uma namorada, noiva, esposa,
filhos, um carro, uma casa:
- viajar
nas férias é perfeito.
Me
foi enfiado de goela abaixo, um kit, seja adulto, feito por muitos adultos que
não tinham noção nem do que queriam, um mundo de acho, um mundo forçoso que
nunca quis, que não planejei, mas me adaptei e continuo aprendendo a tê-lo e faze-lo,
como meu.
Isso acontece, porque o faz de conta não conta?
Sérgio Ricardo de Andrade Pereira,
Recife, 01 de junho de 13, 19:17
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