Perdido na floresta

Perdi-me na floresta, que entrei sem abrir caminho, sem jogar migalhas de pão, não fiz um mapa pra voltar. Uma floresta densa, que não se via o céu, apenas alguns raios de luz penetravam as copas frondosas de árvores gigantescas. Esqueci do azul do céu, esqueci o caminho para voltar, me deixei na sombra das árvores, contemplando apenas o que estava a vista, vivendo, ou melhor, sobrevivendo, como se tudo fosse suficiente, como se não houvesse na floresta, clareiras, serras, vales, rios, montanhas, fiquei apenas na parte densa, escura, úmida, me decompondo.

Me desfiz no solo, num mesmo lugar, me sentido parte, mas sem vida, porém me concentrando num ponto, como uma semente, até que bateu dias de chuva, seguidos de raios de sol, e de repente como se rompe-se uma casca, senti algo sair, uma esperança, verde e pequena, germinou, dias, noites, orvalho, uma luta por mais sol, mais luz, fotossíntese, transformar o ar, sair de onde estava, movimentar.

Crescer novamente, renascer, com uma bagagem maior de erros e acertos, de alegrias e tristezas, um novo ciclo se estabelece, com a mesma certeza de não haver certezas. Nos damos uma nova chance, num processo de crescimento, de conhecer o novo de novo, encontrar novos caminhos, de perseguir sonhos antes esquecidos, de rever convicções, aceitar fraquezas, de pedir ajuda, de ver beleza na imperfeição, de se abrir para o desconhecido, para o etéreo o intangível.

O tempo, o tempo que só sinto quando olho para trás não é o mesmo de quando miro o horizonte, o vejo na pele, no ritmo, no cabelo que muda a cor, mas não há no sentimento do amanhã, não nos planos futuros, não há em mim, como se este fosse uma regra de passagem, uma convenção obrigatória apenas algo que nos dão.

Nascer, crescer, morrer, quantas vezes repetimos em vida ou em vidas, este ciclo?

Sérgio Pereira
Recife, 05 de abril de 2015, 23:31.

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