A estrada



                Peguei a estrada com tantas certezas, asfalto, vento, primeiros raios de sol da manhã, um horizonte agreste numa linha sem fim que me instiga. A cabeça numa mistura de lembranças, idéias e aspirações, não se fixa em nada, os olhos permeiam a realidade da direção e o turbilhão mental, estou em quinta os vidros baixos, não há sinal de vida, o barulho do vento tenta calar o som que sai do player, eu não pareço estar em nenhum lugar, divido entre o aqui o acolá, o hoje, o ontem, o amanhã. Meu pé pesa um pouco mais sobre o acelerador e o ponteiro do velocímetro acompanha com veemência, no meio de toda esta celeuma chega-me a pergunta: para onde estou indo?                        
                Volto para o corpo, o vento incomoda e fecho os vidros, o som está muito alto num gesto automático abaixo, tento restabelecer certa ordem, ao menos ajustar ações e pensamentos. Sai completamente da rota, não sei exatamente onde estou o sol a pino brilha e aquece tremulando a vista. Paro o carro bruscamente no acostamento, sobe um pouco de poeira, abro a porta rapidamente e ando ao redor, olho para todos os lados, meu rosto reluz o calor do sol e o expressa em suor, enxugo com a mão, e com olhos mais franzidos busco me situar e perceber as direções. Volto para o carro, ligo o ar-condicionado, respiro, tento relaxar por uns instantes, sem pensar em mais nada além do prazer daquele vento frio, não se passou nem um minuto direito e a realidade grita o que eu já sei, ou melhor, o que eu não sei: Para onde estou indo, onde estou? 
                Minha respiração acelera, e uma sensação de estar perdido novamente se faz presente, lembro do celular, sem sinal, uma ansiedade uma aflição. Acordo! Tudo não passou de um sonho, olho ao lado e está você, plácido no seu profundo sono, uma sensação de tranqüilidade me invade, volto a me aconchegar, seu braço cai sobre mim, o sonho já se esquece, meus olhos pesam, adormeço.

Sérgio Pereira,
Caruaru, 26 de setembro de 2010, 16:30

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