Sobre o Tempo e os Padrões

Por que temos que respeitar a cronologia, temos tempo para tudo, tempo para se vestir de um modo, tempo para cortar o cabelo mais ousado, tudo tem uma hora ao menos é o que a sociedade nos imprime e prega.
Você está muito velho para isso ou para aquilo, mas as pessoas se esquecem que nem sempre sentimos o tempo como o mundo quer que sintamos, que mesmo que a pele exponha e a ruga fale, às vezes 10 anos parecem que foi ontem, de uma forma tão natural que sentimos o cheiro, o gosto, o toque, num ato de lembrança tão automático que o tempo por segundos morre, não existe torna-se agora.
Nesses momentos podemos experimentar de tudo, do doce ao amargo, saudade saudosa e apaixonada ao rancor bolorento, sem tempo nem hora, mesmo assim, tudo e todos insistem que tudo tem uma hora e que tudo passa, acaba.
O acabar, da maneira como se olha pode ser tão subjetivo, pois nada realmente acaba, somos como uma máquina que grava tudo, até mesmo o que não nos damos conta, exceto quando degeneramos  nosso neurônios e mesmo assim o passado se torna mais forte com cara de hoje.Contra tudo isso temos que respeitar o padrão  que alguém decretou e todo mundo absorveu e mesmo quando lutamos contra, uma hora somos vencidos, perdemos a força para lutar de correr contra o vento, simplesmente desistimos e seguimos o fluxo cômodo e fácil do que nos é dito e enfiado como correto.
Apesar de sermos diferentes, nós, quanto sociedade preferimos o igual, tentamos quebrar a todo custo o naturalmente diferente e colocamos  tudo em fôrmas de gesso, para seguir o padrão. Mais fácil de manipular, de alienar, de criar desejos, somos lobotomizados todos os dias o tempo todo, que não questionamos nem lutamos mais, é sempre mais fácil aceitar. Sonhar com aquela casa branca com o gramado verde e uma cerca de tábuas brancas, com um céu azul e um horizonte radiante, tudo como uma propaganda de margarina, compramos a roupa dos modelos perfeitos mas nosso abdômen não é de tanquinho, nos enquadramos, dietas, leituras, atualizações, padrões e mais padrões, temos que seguir o fluxo, senão ficaremos obsoletos, rejeitados, esquecidos mortos no tempo e no espaço.
Nessa busca pelo padrão vivemos, mas de certa maneira sinto que olvidamos de viver, esquecemos por muitas vezes do que importa de verdade, as relações, os que amamos, esquecemos o simples e acreditamos piamente que todas essa complexidade que vivemos hoje é simples e necessária, que o contrário disso é não viver, é fracassar.
Somos engolidos e não sei se há como lutar ou como fazer diferente, pior, se existe realmente uma forma diferente de seguir nesse mar revolto que nos acostumamos a chamar de vida?
Ricardo Pereira,
Recife, 26 de julho de 2011, 23:36.

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