A nova família

                O sangue que corre nas minhas veias, um símbolo dos laços que unem e ligam uma família, aprendi que devo: amar e proteger o sangue do meu sangue. Fui tão bombardeado deste tipo de educação, acreditei nela por tanto tempo que mesmo já conseguindo questionar, ainda não me sinto livre de todo, se é que exista uma liberdade para.
                A idéia de família mudou muito em mim ao longo da minha curta vida, já tive momentos radicais que beiravam a negação e outros que desejavam uma sustentação dela por ela. Como tudo que vai aos extremos, penso que cheguei ao equilíbrio ou em algo próximo do que poderia sê-lo, mas, uma coisa que definitivamente morreu na minha concepção foi à questão sangue, não consigo encontrar sentindo na união pelo sangue, não nego que ela exista, mas o sangue pelo sangue não passa de fluido vital.
                Agarro-me agora ao que consigo crer como laço real, o afetivo, não consigo perceber que como o sangue seja inquebrável e eterno (mera ilusão). Mais frágil, já que nele não há uma justificativa além da espontânea escolha, por isso, mesmo que mais translúcido e sutil é contraditoriamente forte. Sua força vem na empatia e no ato puro de escolher ser do outro: amigo, irmão, amor, respeito, verdade, força. Tem em si uma necessidade de consideração mútua, logo, há um cuidado e um pensar mais elaborado, próprio e natural ao laço afetivo.             
                Na falta da justificativa do sangue, a uma maior possibilidade destes laços quebrarem, deixando-os eternos em nossas lembranças, o vinculo pode acabar, pode até existir uma mágoa, mas a imagem fixada se perpetuará deixando sempre a possibilidade de uma reunião.
Tenho familiares que mesmo tendo o meu sangue, são completos estranhos a mim, mesmo que próximos, são estranhos, tenho estranhos que se tornaram irmãos, que os amo de forma tão intensa e somos tão comuns uns aos outros.
Não é que não haja um julgamento ou uma cobrança, não é que o amor seja menos, mas o amor dos laços escolhidos tem uma leveza e uma desobrigação inebriante. Esse mundo moderno que desfaz o sangue se lança cada vez mais nos laços escolhidos, tendo na família que escolhemos a nova família.
Sérgio Pereira,
Caruaru, 29 de setembro de 2010, 16:19

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