Impressões "Duas Cantigas"


Vinte  horas e quinze minutos, mais ou menos por essa hora chego eu acompanhado de um amigo ao Museu da Casa de Farinha de Caruaru para assistir a um projeto musical chamado Duas Cantigas, concebido pelo músico caruaruense Valdir Santos. Antes de tudo começar vago pelo museu, observo fotos, artefatos, o ontem. Subo até o piso onde será realizado o projeto, vejo músicos em três níveis, diversos instrumentos percussivos, violões, um violoncelo, flauta doce, elementos que não são exatamente instrumentos, mas sinto que se tornarão.
                Com algumas pessoas já presentes, Valdir Santos abre a apresentação num bate papo descontraído, falando do que inspirou e motivou tudo aquilo, apresenta os parceiros e inicia o que seria uma grata surpresa para uma terça-feira rotineira. Arranjos criativos saltam-me aos ouvidos, numa mistura bem contemporânea de uma música brasileira, global, com nuances nordestinos, para dizer de onde vem. Voz e arranjos tornam todas as músicas extremamente agradáveis, mesmo que ouvidas pela primeira vez, um ambiente de familiaridade e cumplicidade formado no palco transpassa para platéia que absorve tudo aquilo com uma embevecida tranquilidade.
                Os cantores Valdir Santos e Almério costuraram as músicas com estórias sobre as mesmas, refletindo sua arte, suas lembranças, sua visão do mundo, elogios são trocados e toda uma dinâmica melódica se harmoniza com uma inocente naturalidade. A alegria despretensiosa da felicidade se instaurou naquele momento, assistia não só a uma apresentação musical, mas a entrega abstrata que apenas pode ser sentida e não mensurada.
                Confesso que custou-me acreditar que estava tendo acesso a arte de qualidade, tão incomum para nossa realidade, para o nosso tempo, que tudo é tão descartável e propositadamente comercial. Depois da apresentação abriu-se um espaço para perguntas, onde houve muitas demonstrações de agradecimento e apreço pela iniciativa e se falou na necessidade da continuidade, criou-se então a esperança de uma possibilidade da arte como instrumento transformador.
                Imagino que todos saíram inspirados, e sei que isso gerou frutos, seja nesse texto que hora escrevo pelo simples prazer de me expressar, seja pelas melodias que ficaram ecoando em nossas cabeças, pelo encontro inusitado de pessoas que jamais foram a  um museu, pelos simples fato da apreciação.

Sérgio Pereira, 
Caruaru, 21 de setembro de 2010, 23:45

 

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